domingo, junho 06, 2010

Os 23 da Copa (VII) - Elano: discreta eficiência

Filho de cortadores de cana da pequena Iracemápolis, cidade de 20 mil habitantes espremida entre Limeira e Piracicaba, o garoto Elano sempre foi incentivado pelo pai a seguir a carreira de jogador. E a primeira chance surgiu aos 13 anos, nas categorias de base do Guarani. Formado no futsal, o meia logo demonstrou as qualidades que sempre marcaram seu futebol: visão de jogo, boa movimentação, capacidade de se adaptar a várias funções em campo, chutes e passes precisos. E tudo isto aliado a um estilo algo "low profile", sem abuso de dribles e maiores firulas desnecessárias.

Não chegou a se profissionalizar no Bugre, conseguindo sua liberação na Justiça após desentendimento com parte da diretoria. Depois de uma breve passagem pela Internacional de Limeira, chegou ao Santos. E eram tempos difíceis na Vila Belmiro. O início da gestão Marcelo Teixeira fora marcado por investimentos extravagantes em jogadores veteranos (e caros) como Rincón, Valdo, Carlos Germano, Galván e Valdir "Bigode", e o jejum de títulos que já se aproximava de completar duas décadas desesperava a torcida. Ficava difícil para os garotos, da base ou recém-chegados ao clube, se firmarem naquelas circunstâncias.

Após quase duas temporadas atuando meio desapercebido, a sorte de Elano, bem como a de seus companheiros, começou a mudar no segundo semestre de 2002. Sem dinheiro, a diretoria se viu obrigada a apostar num time caseiro e barato, promovendo pratas-da-casa como Robinho e Diego, contratando incógnitas como Alex, Alberto e Maurinho, e mantendo apenas alguns nomes com mais tempo de casa, como Léo e Fábio Costa. E aquele time, que no começo do campeonato era dado até mesmo como um candidato ao rebaixamento, durante o certame revelou-se uma equipe magnífica. Elano, bem como Renato, outro que atuava pelo Peixe há algum tempo sem receber maiores atenções por parte de torcida e mídia, explodiu junto com o resto da equipe, sendo uma de suas mais importantes peças e tendo inclusive marcado um gol na inesquecível virada na decisão diante do Corinthians.

Nos anos seguintes, confirmou sua ascensão e mostrou outra faceta de seu futebol: a versatilidade. Chegou a ser utilizado por breves períodos como lateral-direito e centroavante, com resultados satisfatórios. Contudo, a meia-direita era sua verdadeira posição, e lá acabou ficando. Chegou à Seleção Pré-Olímpica, mas acabou fracassando com o resto do time no Torneio do Paraguai, em janeiro de 2004. Em outubro do ano passado, debutou na equipe principal do Brasil, entrando no segundo tempo da partida contra a Colômbia, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2006.

Após mais um título brasileiro com o Santos, em 2004 (com direito a mais um gol no jogo decisivo, dessa vez contra o Vasco), recebeu proposta do Shakhtar Donetsk, ascendente (e milionário) clube ucraniano. Embora tivesse expectativa de propostas mais vantajosas de mercados mais tradicionais e com muito mais visibilidade, aceitou o desafio, motivado pela possibilidade da independência financeira e de ajudar sua família. Na Ucrânia, teve um bom início, mas a chegada do rigoroso inverno que castigou não só a si, como também à sua esposa e à filha recém-nascida, lhe trouxe um certo arrependimento. Brigado com o treinador romeno Mircea Lucescu e mandado para a reserva, encontrava-se abatido quando recebeu a notícia que deu uma guinada em sua carreira.

Apesar dos pesares, fora convocado pelo recém-chegado técnico Dunga para a Seleção Principal. E seu início não poderia ter sido melhor: marcou dois gols e foi um dos melhores em campo justamente diante da Argentina, no Emirates Stadium de Londres, segundo amistoso do capitão do Tetra no comando da Seleção. E começou a se impor como uma das peças indispensáveis do esquema tático. Após o título da Copa América de 2007, disputada na Venezuela, trocou a fria e escondida Ucrânia pelo badalado e campeão de audiência futebol inglês. Foi defender o Manchester City, "primo pobre" do poderoso United e começando a receber generosa injeção financeira de um milionário empresário tailandês.

Após uma boa primeira temporada, caiu de produção e também em desgraça com o técnico galês Mark Hughes. A solução foi novamente fazer as malas e mudar-se para a Turquia, onde defende o Galatasaray desde o início da última temporada.

Na Seleção, seguiu em bom ritmo. Chegou a perder a posição para o ex-cruzeirense Ramires durante a última Copa das Confederações, mas a recuperou nos últimos amistosos após fracas atuações do concorrente. Continua mostrando o mesmo futebol discreto, porém eficiente, com grande participação especialmente nas assistências, pelo que promete ser uma das armas do Brasil nas jogadas de bola parada no Mundial. E uma curiosidade o credencia: Elano parece ter uma "estrela" toda especial para confrontos contra seleções mais fortes e tradicionais. Além da Argentina, também marcou belos gols contra Portugal e Itália em amistosos de preparação disputados em 2008 e 2009.


Elano Ralph Blumer
meia
Iracemápolis (SP), 14.06.1981
1,74 m
65 kg
Clubes: Guarani (1999/2000), Inter de Limeira (2000), Santos (2001 a 2005), Shakhtar Donetsk-UCR (2005 a 2007), Manchester City-ING (2007 a 2009) e Galatasaray-TUR (desde 2009).
Títulos: brasileiro (2002 e 2004) pelo Santos; ucraniano (2005/06) pelo Shakhtar; da Copa América (2007) e da Copa das Confederações (2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 50 (7 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

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