sábado, junho 12, 2010

Os 23 da Copa (IX) - Luís Fabiano: mais que uma fábula

Filho de mãe solteira, aluno rebelde, o pequeno Luís Fabiano certamente teria tido um futuro não muito promissor não fosse a dedicação e o carinho do avô paterno, "seo" Benedito, que lhe fez as vezes de pai. Incentivador maior do garoto, Ditão lhe conseguiu um teste no Guarani: foi aprovado, mas acabou dispensado um ano depois, quando iria estourar o limite de idade de sua categoria.

Depois de um tempo parado e não tendo tido sucesso em outros ofícios, Luís conseguiu novo teste, no Ituano, e, pouco tempo depois, saiu de lá rumo aos juniores da Ponte Preta, para alegria do avô, torcedor fanático da Macaca. E suas primeiras oportunidades vieram em 1999, ainda poucas num bom time que havia conseguido enfim sair da Série A-2 Paulista após quatro anos de ausência da elite e feito ótima campanha no Brasileiro, chegando às quartas-de-final.

Ainda conhecido apenas como "Fabiano", tornou-se titular em 2000, fazendo um bom Estadual e chamando a atenção do Rennes, modesta agremiação francesa, que à época apostou em outro jovem atacante brasileiro, Lucas, do Atlético-PR e Seleção Olímpica. Não se adaptou à Europa e a notícia do falecimento do avô querido, em setembro daquele mesmo ano, só piorou as coisas.

Retornou no ano seguinte, emprestado ao São Paulo. Na mesma época, desembarcava no Morumbi, outro atacante chamado Fabiano, vindo do Inter e que curiosamente também tinha em seu registro de nascimento o nome Luís Fabiano. A solução foi "rebatizar" o ex-ponte-pretano com seu nome composto, que o acompanha até hoje, enquanto o ex-colorado passou a atender como Fabiano Souza.

Fabiano Souza, famoso por ter comandado a histórica goleada do Inter por 5 x 2 sobre o Grêmio em pleno Olímpico no ano de 1997, acabou tendo passagem apagadíssima pelo Tricolor e muitos torcedores hoje sequer lembram que ele algum dia esteve no Morumbi. Luís Fabiano, em compensação, foi marcante. Ainda desconhecido pela torcida, entrou durante a partida contra o Botafogo no Maracanã, jogo de ida da final do Rio-São Paulo; e fez dois gols na goleada de 4 x 1 que deixou o título praticamente sacramentado para a volta, na qual surgiu outro futuro craque do futuro brasileiro e seu companheiro no Mundial, Kaká.

Logo virou titular e fez ótima dupla de ataque com o também goleador França. Contudo, aquele time, fortíssimo no meio-campo e ataque, acabou a temporada sem títulos, muito por conta de sua frágil defesa. Devolvido ao Rennes por não ter havido acerto financeiro para sua permanência, acabou retornando em definitivo ao Morumbi no segundo semestre de 2002, desta vez para substituir o recém-negociado França como principal referência no ataque são-paulino e ser "escudado" pelo ex-flamenguista Reinaldo.

Acabou artilheiro do campeonato, ao lago do gremista Rodrigo Fabri, mas o time, depois de terminar a fase de classificação disparado na primeira posição, acabou atropelado pelo Santos de Diego e Robinho, o futuro campeão, na fase de mata-mata. Em 2003, a incômoda rotina continuou: muitos gols (artilheiro do Paulistão e 3º maior goleador no Brasileiro, apenas dois gols atrás de Dimba, do Goiás) e a idolatria da torcida, mas o time sempre fraquejava na hora de decidir. Ao menos, o 3º lugar no Brasileiro garantiu o retorno à disputa da Libertadores depois de quase dez temporadas de ausência; e Luís Fabiano ainda fez sua estreia pela Seleção, com um gol na vitória por 3 x 0 diante da Nigéria em amistoso disputado no país africano.

Foi goleador da Libertadores em 2004, mas a doída eliminação diante do Once Caldas, com gol aos 48 do segundo tempo, ofuscou seu belo desempenho. Também acabou sendo coadjuvante na conquista da Copa América: a imprensa paulista o apontava como provável estrela da competição, mas viu Adriano, ex-Flamengo e então chegando à Internazionale, brilhar e ser o maior nome daquele título.

Já contestado por parte da torcida tricolor devido à falta de títulos (nem a ótima marca de 118 gols em 160 partidas vinha sendo muito levada em consideração), foi para o Porto. Parecia bom negócio chegar a uma equipe recém-campeã da Liga dos Campeões e em alta, mas novamente não se adaptou de imediato ao futebol europeu, não conseguindo emplacar mais do que uma temporada. Em baixa, chegou ao Sevilla, time ascendente e que vinha de ótima campanha em La Liga na edição 2004/05, para brigar por uma posição com o argentino Saviola, "eterna promessa" emprestada pelo Barcelona.

Mais uma vez, seu início foi difícil, mas o gol marcado na final da Copa da UEFA, que abriu a goleada de 4 x 0 sobre os ingleses do Middlesbrough e garantiu uma inédita conquista aos Rojiblancos, parece ter lhe dado ânimo. A partir da temporada 2006/07, deslanchou e tornou-se peça indispensável na equipe andaluz, que andou perto de beliscar o título por dois anos seguidos, mas fraquejou nas retas finais. Veio ainda o bi da Copa da UEFA e a conquista da Copa do Rei, título que o Sevilla não ganhava havia 59 anos. E em 2008, Luís Fabiano brigou cabeça a cabeça pela artilharia da Liga, que acabou ficando com o espanhol Güiza, então do Mallorca e atualmente atuando no Valencia.

Mas a maior prova de sua ascensão se deu com a camisa amarela da Seleção. Os dois gols da difícil vitória sobre o Uruguai, em novembro de 2007, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, no mesmo Morumbi onde havia brilhado intensamente alguns anos antes, lhe deram moral para agarrar a camisa 9 e não mais a largar. Aproveitou-se ainda dos eternos problemas extra-campo de Ronaldo e Adriano, concorrentes outrora aparentemente insuperáveis e que acabaram derrotados pela própria indolência.

Goleador principal da Seleção na conquista da Copa das Confederações e também nas eliminatórias, hoje Luís Fabiano é peça indispensável no time do técnico Dunga. Há quem diga que não se trata de um "extra-classe" como os centroavantes que o Brasil teve em Mundiais passados, como Reinaldo, Careca, Romário e Ronaldo (claro, quando o preparo físico e comportamento fora de campo lhe permitia ser assim considerado...), mas certamente terá muito a oferecer em uma competição nivelada como a que está sendo disputada na África do Sul.


Luís Fabiano Clemente
atacante
Campinas (SP), 08.11.1980
1,83 m
84 kg
Clubes: Ponte Preta (1999 a 2000), Rennes-FRA (2000 e 2002), São Paulo (2001 e 2002 a 2004), Porto-POR (2004/05) e Sevilla-ESP (desde 2005).
Títulos: do Torneio Rio-São Paulo (2001) pelo São Paulo; mundial interclubes (2004) pelo Porto; da Copa do Rei (2007 e 2010), da Copa da UEFA (2006/07) e da Supercopa Europeia (2006) pelo Sevilla; da Copa América (2004) e da Copa das Confederações (2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 38 (25 gols)
Participação em Copas: estreante

Foto: Getty Images

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