sexta-feira, maio 28, 2010

Os 23 da Copa (VI) - Gilberto: outra vez na janela do bonde

Uma das melhores revelações do Tio Sam (tradicional equipe carioca de futsal), Gilberto era, porém, muito mais conhecido no início de sua carreira apenas como "o irmão do Nélio". O mano mais velho até teve um início promissor no futebol, fazendo parte de uma geração vitoriosa nos juniores do Flamengo e depois vestindo a lendária camisa 10 titular por algumas temporadas. Contudo, perdeu-se a partir de meados da década de 90 em virtude da indisciplina e do gênio difícil em campo (era acusado por muitos adversários de ser extremamente desleal e maldoso).

Após sair das quadras e passar algum tempo nos times menores no América, Gilberto chegou ao Rubro-Negro em 1996, quando Nélio ainda se encontrava na Gávea, mas já alternando entre entradas e saídas da equipe titular. Mostrou bom futebol, de categoria nos avanços ao ataque e segurança na marcação, sendo titular na conquista invicta do Estadual do mesmo ano.

Mas a sorte mudou já no segundo semestre. O Flamengo fez um Brasileiro medíocre, sofrendo várias goleadas e ficando muito longe da zona de classificação à fase final. E Gilberto acabou perdendo a posição de titular para o jovem Athirson, então mais uma grande promessa oriunda da tradicional "fábrica de craques" rubro-negra.

Após passar mais uma temporada quase inteira no banco, em 1997 (tendo oportunidade de atuar apenas nas convocações de Athirson para a Seleção Sub-20), Gilberto acabou mudando de ares. Foi para o Cruzeiro e recuperou seu bom futebol. Destaque da ótima, porém azarada equipe comandada por Levir Culpi em 1998 (campeã mineira e vice em outros três campeonatos, Copa do Brasil, Brasileiro e Copa Mercosul), chamou a atenção da tradicional Internazionale de Milão.

No time que também contava com Ronaldo, Gilberto teve pouquíssimas oportunidades e não chegou a corresponder quando as recebeu. Retornou ao Brasil seis meses depois, desta vez para vestir a camisa do Vasco.

Mostrou novamente um bom futebol em São Januário. Mas novamente o azar lhe perseguiu: passou longo tempo se recuperando de uma grave contusão no joelho, perdendo praticamente toda a temporada de 2000. Com a crise financeira começando a tomar conta do clube e os salários começando a atrasar, tomou parte na grande barca de medalhões que deixou o clube alvinegro ao longo de 2001.

Indicado pelo técnico Tite, chegou ao Grêmio. Teve ótima passagem por Porto Alegre (com direito à sua primeira convocação para a Seleção, disputando a Copa das Confederações), ainda mais depois que, no Brasileiro de 2003, foi deslocado para o meio-campo e foi um dos nomes decisivos para o Tricolor escapar do rebaixamento. Ao final da competição, seu contrato encerrou-se e foi arriscar a sorte no emergente São Caetano, treinado por seu velho conhecido Tite.

O treinador logo caiu e foi substituído por Muricy Ramalho. Mas Gilberto, também fixado no meio-campo do Azulão, foi um dos pilares da equipe que conquistou o inédito título paulista. Tão logo acabou o campeonato, transferiu-se para o Hertha Berlim da Alemanha, valendo-se de uma cláusula que obrigava o São Caetano a liberá-lo sem custos em caso de proposta européia vantajosa.

Gilberto demorou um pouco a se encontrar na capital alemã. Seu futebol acabou surgindo justamente no meio da temporada da Bundesliga, época em que o frio intenso domina a Europa e os gramados ficam muitas vezes totalmente branquinhos. Por causa disso, a torcida lhe deu o sugestivo apelido de "Homem da Neve". A boa fase acabou lhe valendo o retorno à Seleção, fazendo parte do grupo que conquistou a Copa das Confederações em 2005, competição em que disputou quatro das cinco partidas como titular, inclusive a final contra a arquirrival Argentina. A essa altura, já há muito tempo as coisas haviam se invertido: Nélio é que passara a ser "o irmão do Gilberto"...

Conquistou sua vaga no Mundial da Alemanha praticamente aos 45 do segundo tempo, valendo-se principalmente da má fase do concorrente Gustavo Nery no Corinthians. Como já era esperado, não pôde alimentar esperanças de ganhar a posição de Roberto Carlos, mas aproveitou a única chance, diante do Japão, ocasião em que o camisa 6 e outros titulares foram poupados, para fazer uma boa atuação e até deixar um golzinho.

Com a chegada de Dunga, Gilberto continuou sendo chamado, apesar da idade avançada que teria (como tem) por ocasião da Copa de 2010, disputando posição com jovens como Marcelo, Adriano e Filipe Luís, ascendentes como André Santos e Juan Maldonado, e até mesmo improvisados, caso do folclórico Richarlyson. Todos ficaram pelo caminho. E após mais de um ano sem qualquer convocação, marcado ainda por uma infeliz passagem pelo Tottenham (onde ficou boa parte do tempo relegado ao time B) e o retorno ao futebol brasileiro para uma segunda passagem pelo Cruzeiro, Gilberto acabou de forma surpreendente retornando à Seleção e mais uma vez se garantindo num Mundial em cima da hora.

Deverá travar boa briga pela posição de titular com Michel Bastos, outro lateral-esquerdo de origem que, contudo, há muito tempo, não atua na posição. E seja quem for o vencedor, terá muito trabalho para convencer a opinião pública, ressabiada com a escassez de opções numa posição que até bom pouco atrás era farta em oferta de bons jogadores para a Seleção.


Gilberto da Silva Melo
lateral-esquerdo
Rio de Janeiro (RJ), 25.04.1976
1,80 m
78 kg
Clubes: América-RJ (1993 a 1995), Flamengo (1996/97), Cruzeiro (1998 e desde 2009), Internazionale-ITA (1999), Vasco (1999 a 2001), Grêmio (2002/03), São Caetano (2004), Hertha Berlim-ALE (2004 a 2008) e Tottenham-ING (2008/09).
Títulos: carioca (1996) pelo Flamengo; mineiro (1998) pelo Cruzeiro; brasileiro (2000) e da Copa Mercosul (2000) pelo Vasco; paulista (2004) pelo São Caetano; da Copa das Confederações (2005) e da Copa América (2007) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 33 (1 gol)
Participação em Copas:
2006 (5º lugar) - 1 jogo, 1 gol

Foto: CBF.com.br

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