quarta-feira, maio 19, 2010

Os 23 da Copa (I) - Júlio César: segurança extrema


Perto de completar 31 anos, Júlio César ainda é relativamente jovem, especialmente para os padrões de um goleiro, posição normalmente de grande longevidade. Ao mesmo tempo, é certamente um jogador de grande experiência. Sua estréia profissional no Flamengo deu-se já aos 17 anos, em maio de 1997, justamente em um clássico contra o Fluminense, no Maracanã.

Substituindo o veterano Zé Carlos, não comprometeu, apesar da derrota por 2 x 0. Pelo contrário: fez ótimas defesas e até pegou um pênalti. Foi imediatamente profissionalizado, passando a ser reserva imediato do também experiente Clemer, contratado no mesmo ano para substituir o antigo titular, que foi para o Vitória.

Em 1999, defendeu a Seleção Brasileira Sub-20 na disputa dos campeonatos sul-americano e mundial da categoria (no segundo, perdeu a posição de titular às vésperas da competição para Fábio, atualmente no Cruzeiro). E a cada falha do inconstante Clemer, seu nome era pedido pela torcida rubro-negra para assumir a camisa 1, o que finalmente ocorreu durante a Copa João Havelange, no ano seguinte.

Em 2001, ajudou o Fla nas conquistas do tricampeonato estadual e da Copa dos Campeões. E começou a ser convocado para a Seleção principal, como terceiro goleiro, atrás de Marcos e Dida. Seu nome era dado como certo no Mundial de 2002, no Japão e na Coréia do Sul, pois Luiz Felipe Scolari tinha o objetivo de levar um arqueiro jovem, a fim de “prepará-lo” para uma possível titularidade na Copa seguinte.

Contudo, a imaturidade de Júlio César acabou jogando contra. Deslumbrado e considerando-se garantido no grupo, soltou declarações pouco humildes em algumas entrevistas, o que acabou irritando Felipão. O treinador acabou, enfim, levando o são-paulino Rogério Ceni para o lugar. Para compensar a frustração, Júlio deu-se bem no campo pessoal, casando-se na mesma época com a bela atriz e modelo Suzana Werner, (ex de Ronaldo “Fenômeno”), com quem está até hoje.

Seguiu seu trabalho no Flamengo, como ídolo inconteste da galera rubro-negra. Seu amor sincero pelo clube, porém, vez ou outra proporcionava situações constrangedoras. Na semifinal do Estadual de 2003, sofrendo uma goleada impiedosa (0 x 4) diante do Fluminense, tendo falhado em pelo menos um dos gols, e após ver o rival dar um “olé” humilhante, tocando a bola de pé em pé por quase dois minutos, Júlio César roubou a bola de um atacante tricolor e arrancou com ela nos pés até o campo de ataque, quase proporcionando um contra-ataque e mais um gol adversário. Após a partida, foi duramente criticado por Evaristo de Macedo e reagiu desastradamente contra o veterano treinador, chamando-o de “burro”. Depois, voltaram às boas.

Com o retorno de Parreira e Zagallo (que o guindou à condição de titular no Flamengo) à Seleção, Júlio continuou sendo chamado, agora como reserva imediato de Dida. A imprensa (logicamente, a de fora do Rio...) nunca gostou muito da idéia. Logo surgiram rumores de que o rubro-negro só estaria sendo chamado por ter como seu procurador Paulo Zagallo, justamente o filho do auxiliar-técnico da Seleção.

As críticas só cessaram um pouco com a Copa América de 2004. Titular na competição graças à ausência de Dida (bem como dos demais “estrangeiros” titulares, poupados por Parreira), destacou-se durante todo o torneio, especialmente com os pênaltis defendidos na semifinal diante do Uruguai (reabilitando-se de um frango sofrido no tempo normal) e na final contra a Argentina, ajudando a garantir o título.

Com o final do contrato com o Flamengo, rumou para a Europa. Assinou com a tradicional Internazionale de Milão, passando antes por um “estágio” de seis meses no Chievo de Verona. Aproveitando-se da contusão do veterano titular Toldo, ganhou a posição de titular, mantida até hoje e só perdida por um breve período no final da temporada 2005/06.

Esteve entre os 23 na Copa da Alemanha, condição que não chegou a correr riscos; afinal, Parreira sempre deixou muito claro que não tinha interesse em chamar três goleiros veteranos, como ocorreu em 2002, preferindo chamar pelo menos um jogador mais jovem. Sem perspectivas de atuar naquele Mundial, contentou-se com a segunda suplência do gol, de olho firme na possível titularidade de 2010, já sabendo que dificilmente teria que enfrentar novamente a forte concorrência dos experientes Dida, Marcos e Rogério Ceni.

E assim ocorreu. Após algumas chances concedidas pelo iniciante técnico Dunga a outros arqueiros, como Gomes e Doni, assumiu definitivamente a camisa 1 da Seleção após a Copa América, jamais tendo corrido qualquer risco de perdê-la desde então. Atingiu seu auge em uma campeoníssima Inter que, impulsionada pelos investimentos nada modestos e até exagerados do presidente Moratti, além da decadência pós-CalcioCaos dos rivais Milan e Juventus, saltou de um jejum de 17 anos sem conquistas nacionais para o atual pentacampeonato italiano e uma iminente reconquista do título europeu após 45 temporadas. Após atuações de gala por seu clube e pelo Brasil, em especial contra o Equador, quando salvou a Seleção de uma derrota acachapante, atingiu a unanimidade nacional, inclusive perante a opinião pública paulista que tanto o contestava alguns anos antes.

Tido por muitos órgãos de imprensa internacionais como um dos três melhores goleiros do mundo na atualidade (quando não o melhor), Júlio César é uma das peças vitais da equipe que Dunga escalará na Alemanha. O título mundial, no ápice de sua carreira, certamente significaria sua consagração definitiva como um dos maiores nomes da posição na história do futebol brasileiro.


Júlio César Soares Espíndola
goleiro
Rio de Janeiro (RJ), 03.09.1979
1,86 m
79 kg
Clubes: Flamengo (1997 a 2004), Chievo-ITA (2005) e Internazionale-ITA (desde 2005).
Títulos: carioca (1999/2000/2001 e 2004), da Copa dos Campeões (2001) e da Copa Mercosul (1999) pelo Flamengo; italiano (2006/07/08/09/10) e da Copa da Itália (2006 e 2010) pela Internazionale; da Copa América (2004) e da Copa das Confederações (2005 e 2009) pela Seleção Brasileira.
Jogos pela Seleção: 47 (31 gols sofridos)

Participação em Copas:
2006 (5º lugar) - nenhum jogo

Foto: Getty Images

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